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25 de abril de 2024

“Tudo isto vai Passar”

08/07/2020 . Formação

Pe Carlos Jorge Teixeira

Esta é uma das frases que mais temos ouvido nestes tempos de pandemia. Ela revela um sentimento perfeitamente justo, legítimo, compreensível e, acima de tudo, salutar para a nossa fé cristã. Porém, faz-se necessário que sua razão de ser não seja somente um passivo desejo. Ainda mais, é necessário que ela se torne um projeto de vida, um compromisso a ser assumido por todos nós.

Dirijo-me, de maneira fraternal, a você que professa a fé no Deus da vida. com estas palavras bíblicas, ditas pelo próprio Deus. “Eu vi, eu vi a aflição do meu povo no Egito, e ouvi o clamor que lhe arrancaram seus opressores; sim, conheço suas aflições. Por isso Desci para libertá-los das mãos dos egípcios e levá-los para uma terra boa e esperançosa, onde corre leite e mel. ( Ex 3, 7-8).

Penso que a pandemia veio para nos desafiar a entrar num “novo Êxodo”, num novo caminho, tanto no nível pessoal quanto no nível social, político, econômico e também evangelizador, eclesial. Neste novo êxodo será preciso criar novas relações, desconstruir estruturas velhas e caducas, para construir um tempo novo.

A pandemia não veio para nos dar respostas prontas. Ao contrário, veio para nos questionar, nos tirar da zona de conforto. Sua grafia no momento não comporta um ponto final, mas uma inquietante interrogação; o que se pede de todos nós para que de fato, tudo isto possa passar? Este novo êxodo pedirá a nós uma espiritualidade nova, mais encarnada e menos intimista, uma espiritualidade embasada no cuidado com a vida em todas as suas dimensões.

Daí a necessidade de novos paradigmas, novos métodos de evangelização e vivência da missão. Aqui me reporto às palavras de São João Paulo II quando se referia a nova evangelização por ocasião da celebração do novo milênio. Dizia ele: “a nova evangelização deve ser nova nos métodos, no conteúdo e nas expressões”. Esta é a hora oportuna para colocar isto em prática.

Todos nós cristãos, comprometidos com a realização do sonho de Deus, sonho que também é nosso, somos chamados a constituir uma parceria eivada de fé, esperança e caridade. Devemos ser geradores de uma cumplicidade amorosa e solidária, que supere o individualismo, a prática de uma religião alienada e alienante. Deus, que vê nossa inquietude e “desce” até nós, nos convoca para transformar sonhos em compromissos. Ele sonha também junto com a gente.

Este tempo, não obstante as dificuldades que ele traz, não pode se transformar num tempo para ser simplesmente esquecido, como podem pensar alguns, mas uma oportunidade de renovação de nossas relações em todo o tecido social. É a escola da vida nos ensinando; fazendo de nós eternos aprendizes. ´É Jesus quem nos exorta: “tomai sobre vós o meu jugo e aprendei comigo, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas, porque meu jugo é suave e meu peso é leve” (Mt 11,29-30)

Estamos todos sedentos. E para que essa sede seja saciada é necessário que saibamos regar a nossa fé, reavivar nossa esperança e exercitar a caridade. Enquanto regamos, cuidemos de nossa fé em Jesus Cristo. Enquanto esperamos, esperancemos também com Jesus. Enquanto irmanados num só ideal, sejamos também caridosos uns com os outros.

Neste novo êxodo não há espaço para o desânimo e o comodismo. Embora fragilizados, necessitamos “beber no próprio poço”.

Nós não apenas acreditamos que “tudo isso vai passar”. Nós cremos que tudo vai passar. É essa força vital que nos move e, ao mesmo tempo, nos compromete. Portanto, não tenhamos medo de ir à fonte.
Termino lembrando esta bela canção composta por Gonzaguinha. Ela se chama Semente do Amanhã. Com certeza nos servirá de inspiração.

Ontem um menino que brincava me falou
Que hoje é semente do amanhã.
Para não ter medo, que este tempo vai passar.
Não desespere não, nem pare de sonhar.
Nunca se entregue! Nasça sempre com as manhãs.
Deixa a luz do sol brilhar no céu de teu olhar.
Fé na vida, fé no homem, fé no que virá.
Nós podemos tudo; nós podemos mais.
Vamos lá fazer o que será.