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11 de outubro de 2024

Sinodalidade – apelo à conversão pastoral dos sacerdotes

05/04/2024 . Formação

O Papa Francisco desde 2015 tem exortado a todos os cristãos batizados a refletirem sobre a dimensão sinodal da Igreja. Esta reflexão culminou com a convocação do Sínodo dos Bispos sobre sinodalidade. Nunca houve uma preparação para um sínodo que envolvesse todas as dioceses do mundo num processo de escuta dos fiéis e das suas paróquias desde as suas pequenas comunidades, seus conselhos pastorais e demais organismos pastorais. Porém a sinodalidade é maior e mais importante do que o Sínodo 2021-2024.

O sínodo é um instrumento que na Igreja Católica do Ocidente é assumido após o Concílio Vaticano II. Sua finalidade é oferecer ao Sumo Pontífice assessoria em assuntos relevantes à fé e à missão da Igreja. Já a sinodalidade é uma dimensão essencial da Igreja de Jesus Cristo em todos os tempos da história. Em cada tempo e em cada lugar a Igreja sempre buscou promover o caminhar junto do Povo de Deus. É verdade, porém, que ao menos algumas vezes a forma de organizar as estruturas e os processos da Igreja não conseguiu visibilizar de modo coerente com o Evangelho esta nota característica de si mesma.

Por isso é tão oportuna esta iniciativa do Papa Francisco de propor para o discernimento de todo o povo cristão católico a questão: “Que Igreja o Espírito Santo deseja para o mundo atual? ”

Esta questão incide de forma muito concreta sobre os bispos e presbíteros, em razão de seu múnus pastoral. Certamente o Santo Espírito quer ministros ordenados santos, que sejam capazes de não só viver na graça de Deus, mas de consagrar todas as suas potencialidades a serviço do anúncio do Evangelho e da condução do Povo de Deus à comunhão com Deus e com os irmãos.

Desde o início das reflexões sobre a sinodalidade, o Santo Padre tem chamado nossa atenção para a necessidade do discernimento da vontade de Deus. Sobre esta questão sempre aprendemos que a meditação da Palavra de Deus e a oração são as principais fontes de discernimento, pois através delas nós escutamos a vontade do Senhor. Sem negar o valor deste caminho espiritual, o processo sinodal tem nos ensinado que a escuta atenta dos outros irmãos e irmãs, no contexto de fraternidade aberta, é um instrumento valioso e mesmo indispensável de discernimento da vontade de Deus: “Cada um a escuta do outro e todos à escuta do Espírito Santo”.

Esta proposição exige de nós pastores uma conversão pessoal, cultural e pastoral. Não posso mais me ver como iluminado, diferente e superior aos demais membros do rebanho. Preciso abdicar do pedestal da pretensão de uma autoridade inquestionável e absoluta. Autoridade sim e sempre o pastor deve ter sobre seu rebanho. Porém, autoridade relativa à vontade de Deus a ser discernida em um processo partilhado sinodalmente. Essa conversão pessoal e cultural terá de se concretizar num novo modo de evangelização, de ação pastoral e de pastoreio.

O sínodo propõe a todos os cristãos batizados uma Igreja – comunhão, participação e missão. O padre numa Igreja sinodal terá de ser o líder por excelência da comunhão fraterna entre os membros das comunidades, sob a sua responsabilidade. Necessariamente deverá ser o mestre, o mistagogo a ensinar o caminho da comunhão com Deus e com os irmãos, partilhando com os fiéis a sua experiência pessoal, oportunizando vivências concretas de encontro com o Senhor nos encontros com os irmãos e irmãs. Sem comunhão fraterna não há verdadeiro cristianismo.

Outro passo importante é a necessária participação ativa e comprometida de todos os membros da comunidade. Sem participação não há sentimento de pertença e muito menos identificação.  Quem não participa de forma pessoal e ativa dos processos de organização, manutenção e promoção da missão da comunidade, mantém um vínculo frágil e débil com sua comunidade de fé. Sempre estará sujeito à influência de outros pastores e de outras propostas religiosas, que na atualidade são tão numerosas. Assim, o padre da Igreja sinodal presa ser o animador da participação e o primeiro a tomar parte dos processos comunitários como membro ativo e não só como líder distante e mandatário supremo.

Por último, mas não menos importante é a vivência de uma espiritualidade missionária. Essa espiritualidade nos faz olhar menos para aqueles que estão dentro do redil, e sentirmo-nos responsáveis por aqueles que ainda estão fora e que são de nossa responsabilidade, já que recebemos do Senhor a incumbência de lhes anunciar o Kerigma.

A missão é uma vacina multidirecional – nos imuniza contra várias morbidades espirituais: acomodação autocentrada, clericalismo, saudosismo retrógrado, religiosidade desencarnada, indiferença ao sofrimento dos pobres.

O impulso missionário areja as nossas sacristias e centros de pastoral. Oferece ânimo novo à vivência da fé na comunidade. Ilumina-nos com a alegria do Evangelho. Por isso, o padre na Igreja sinodal será promotor da ação missionária de sua comunidade ou viverá seu ministério em desacordo não só com seu sacerdócio ministerial, mas será incoerente com o seu Batismo.

O momento atual nos desafia a vivermos um profundo processo de conversão – uma páscoa. Não há páscoa sem cruz ou sem morte. Também não há páscoa sem ressurreição e sem pentecostes.

Caros irmãos e irmãs, neste dia em que fazemos memória da instituição do sacerdócio instituído por Jesus Cristo, o nosso Senhor, rezemos pelos nossos irmãos sacerdotes, para que, mergulhados no amor e na graça de Deus vivam com fé e alegria sua consagração de vida a serviço da Igreja sinodal.

(Homilia proferida por Dom Marco Aurélio, no dia 28/03/2024 na Missa do Crisma na Catedral Diocesana Nossa Senhora do Rosário, em Itabira.)