Hoje, dia 14 de junho de 2021, a Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano comemora os seus 56 anos de Igreja Particular. É um regozijo olhar para o início da sua criação e perceber que, desde o começo, a Diocese sempre preocupou-se que a sua ação evangelizadora acontecesse com a participação do povo. Dom Marcos Antônio Noronha, o primeiro bispo diocesano, sempre enfatizava: “Eu acreditava lá no fundo que não se podia fazer absolutamente nada sem consultar o povo. O povo deveria ser o agente dessa ação! […] [era preciso] fazer o povo refletir e participar, despertar e formar lideranças, criar uma nova imagem de Igreja”.1 Com essas palavras deu-se os primeiros passos rumo à evangelização deste território mineiro, já com uma rica história religiosa desde o início do seu povoamento.
A Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano tem um toque especial! A sua eclesiologia e a ação missionária são envoltas nos ideais do Concílio Vaticano II: uma Igreja aberta para repensar as suas ações em um mundo complexo. A sua essência é missionária e a sua ação é sinodal, com os irmãos e irmãs em busca de uma experiência com o Cristo e na vivência do Reino de Deus. Os Grupos de Reflexão e as Comunidades Eclesiais de Base foram importantes no início da ação pastoral da Diocese e contou com o apoio dos bispos que por ela passaram, como bem afirmara Dom Mário Teixeira Gurgel, cujo centenário de seu nascimento estamos celebrando: “[…] a Igreja deve agir em dois campos. Primeiro, deve formar a consciência crítica do povo, conscientizá-lo de que ele deve participar ativamente da vida comunitária. Segundo, a Igreja tem a obrigação de denunciar tudo aquilo que vai contra os interesses da comunidade”.2 Dom Lelis Lara também aproximou “a relação entre o clero e o laicato, centrada no protagonismo das decisões colegiadas comunitárias e paroquiais, expressas em suas Assembleias e sistematizadas nos Planos de Pastoral.”3
Nos trabalhos desenvolvidos na Diocese, por meio de suas pastorais, movimentos e serviços, como, por exemplo: a Pastoral da Criança, Comunidades Eclesiais de Base, Conselho Nacional do Lacaito do Brasil, Dimensão Ecumênica, Dimensão Missionária, Renovação Carismática Católica, Pastoral Carcerária, Pastoral Catequética, Pastoral da Juventude, Pastoral da Sobriedade, Pastoral do Menor, Pastoral dos Surdos e Pastoral Familiar, contribuem para ação evangelizadora assumindo as necessidades, as dores, as alegrias e os sonhos dos irmãos e irmãs.
Desde a sua gênese, os leigos estão envolvidos na construção, formação e execução dos trabalhos de missão e evangelização. Isso é uma característica muito forte da nossa Igreja Particular, como percebemos no grande número de participantes diocesanos em eventos que defendem os direitos humanos, sociais e ambientais, como a Romaria das Águas e da Terra, Romaria dos Mártires e o Grito dos Excluídos. Um dos tantos eventos que marcaram a vida diocesana na ação pastoral-social foi o 11º Intereclesial das CEBs que aconteceu na cidade de Ipatinga, de 19 a 23 de julho de 2005, no episcopado de Dom Odilon Guimarães Moreira, com o tema “Espiritualidade Libertadora”, e o lema “Seguir Jesus Cristo no compromisso com os excluídos”. “O 11º Intereclesial foi um momento ímpar para reafirmar a espiritualidade libertadora das CEBs e foi um grande marco para a Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano, pois relembrou as suas origens datada da década de sessenta” (FERREIRA; SANTOS, 2018, p. 1107).4
A Diocese é bem plural e com características específicas, apesar de já se notar algumas mudanças, em seus três regionais pastorais: “Itabira voltada mais para uma fé devocional; João Monlevade com uma junção entre fé devocional e engajamento social e Coronel Fabriciano (Vale do Aço) com uma fé mais engajada no social com poucos traços devocionais” (SANTOS, 2018, p. 83).5 Por isso sempre foi preciso reafirmar a unidade na diversidade. Segundo Dom Odilon, a unidade “é um dos desafios maiores da Diocese, que vem e está no nosso tempo, é exatamente a unidade na diversidade. Unidade na diversidade, não tem jeito de colocar todo mundo na mesma panelinha, não tem jeito né, temos que respeitar mesmo a diversidade.” E continua: “a Igreja de Cristo é assim, o corpo cuja a cabeça é Jesus Cristo e uma diversidade muito grande de membros e tem que respeitar esta diversidade e trabalhar com a unidade, claro, se não estamos fadados ao fracasso”.6
Comemorar os 56 anos da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano é fazer memória de todas as pessoas que contribuíram para essa caminhada de fé no qual hoje fazemos parte e somos os protagonistas. É momento de sentir orgulho da caminhada de fé, com os seus acertos e com seus erros, pedindo a proteção divina para seguir com coragem e profecia o Evangelho de Jesus Cristo. Hoje, Dom Marco Aurélio Gubiotti, juntamente com o seu clero e seus diocesanos, continuam a escrever a história dessa Igreja Particular e que nunca os faltem as inspirações do Espírito Santo e acolhimento ao seu rebanho. Como bem disse o nosso pastor diocesano: “Firmes na fé, entreguemos tudo nas mãos de Deus e lancemos com alegre confiança as sementes de nossos projetos pessoais e comunitários. Que renasça em nossos corações uma nova esperança de dias mais humanizados.”7
Parabéns Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano!
Parabéns Povo de Deus!
Júlio César Santos
Seminarista do 3º ano de Teologia da Diocese de Itabira-Coronel Fabriciano.
Historiador e associado correspondente do Instituto Histórico
e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG).
1 NORONHA, Marcos de. “Itabira é a Rua de Ontem”. O Cometa Itabirano. N. 11. Dez. 1980.
2 Tribuna de Itabira, junho de 1992, p. 3. Apud: LIMA, José Carlos Fernandes. Tributo a D. Mário Teixeira Gurgel. Mimeo. Sem data.
3 BUARQUE, V. A. C.; PINHEIRO, C. F. S.; SANTOS, J. C. DIOCESE DE ITABIRA-CORONEL FABRICIANO – 50 ANOS DE HISTÓRIA. Belo Horizonte: O Lutador, 2015. p. 122.
4 FERREIRA, Rafael Bruno; SANTOS, Júlio César. Resistência cristã em torno da espiritualidade em um Deus libertador: o caso do XI Encontro Intereclesial de CEBs em Ipatinga/MG. Anais do 31º Congresso Internacional da SOTER: Religião ética e política. Belo Horizonte, 2018. p. 1103-1110.
5 SANTOS, Júlio César. DIOCESE DE ITABIRA – CORONEL FABRICIANO: entre identidades plurais, o dialógico de uma história. Anais da Jornada 50 Anos de Maio de 68. Política e Cristianismo. ANNALES FAJE. v.3. n.3. 2018. p. 76-84.
6 Entrevista concedida por Dom Odilon Guimarães Moreira a Júlio César Santos em 8 jun. 2014, durante a Festa da Diocese, realizada no município de Santana do Paraíso.
7 GUBIOTTI, Dom Marco Aurélio. A Paz como fruto do cuidado. Disponível em: https://www.cnbbleste2.org.br/artigo/a-paz-como-fruto-do-cuidado-25012021-101511. Acesso em 08 jun. 2021.