Queridos irmãos e irmãs,
Vivemos tempos jamais esperado por nós. Alguns chegam a dizer: estamos nos fins dos tempos. A pandemia, mesmo tempo se prolongado até os dias atuais, ainda continua sendo um mistério para nós. Nos parece que estamos vivendo um sexta-feira santa sem páscoa, que parece não ter fim. Tem feito parte de nossas vidas e nos assustado muito os sentimentos de solidão, incerteza e impotência. Mas crendo num Deus que se faz solidário com seu povo, temos nutrido em nós sentimentos de comunhão fraterna, de solidariedade e confiança e de esperança que nos leva a termos cada vez mais coragem de trilharmos o calvário sabendo que não nos prenderemos no Gólgota. Nossa fé nos leva a olhar para além deste “lugar da caveira”.
Talvez diante de toda esta situação tenhamos nos perguntado: onde está Deus? A resposta é simples: ele está no meio de nós, assim como o nosso coração está nele. Ele está no meio de nós nos nossos irmãos e irmãs, naquele que sofre mas também naquele que lhe estende a mão. Poderíamos nos perguntar ainda: mas porque o sofrimento? E São Paulo nos ajuda a responder: é preciso completar, em nossa própria carne, o que falta à Paixão do Senhor (Cl 1,24). O que torna tudo claro em nossa vida é pensar “que os sofrimentos do momento presente nem se comparam com a glória futura que será revelada em nós” (Rm 8,18).
Podemos comparar este tempo como uma via-sacra, mas não sozinhos, com Jesus. A dor e o sofrimento de Jesus carregando a cruz é a dor da humanidade. Com lhe pesa nos ombros nossos pecados. Como sofreu o meu Jesus. Em sua agonia na Cruz fez a experiência total da rejeição e do abandono. Em sua agonia continha a de toda a humanidade. Junto a um povo que sofre, Deus também sofre. Junto a um povo que chora, Deus também chora.
Com a mesma confiança de Jesus no Calvário, tenhamos a confiança de dizer a Deus: Pai, em tuas mãos me entrego (cf. Lc 23,46). A entrega confiante nas mãos do Pai nos leva a alegria da vida nova, da ressurreição. Esta entrega leva-nos para além do sepulcro, a não procurarmos entre os mortos quem venceu a morte, quem está vivo (cf. Lc 24,5)
Amados irmãos e irmãs, o Cristo, vitorioso da morte, nunca nos abandonará. Recordemos alguns sinais da vida pascal, que estamos testemunhando no Brasil e no mundo: o cuidado e a dedicação dos profissionais da saúde para amenizar o sofrimento e salvar a vida, mesmo correndo o risco de serem infectados; a solidariedade fraterna daqueles que oferecem estendem as mãos sobretudo aos mais pobres e aos irmãos em situação de rua; a convivência familiar, mesmo diante dos conflitos que daí podem surgir, exigindo muitas vezes o perdão e a reconciliação; o carinho e a paciência com os idosos, na sua dificuldade de entender o momento que vivemos; a oração e a comunhão na dor com aqueles que perderam seus entes queridos. Tantos outros sinais de vida podem ser enumerados.
Iremos celebrar a Páscoa. Páscoa é vida nova, ressurgida gloriosamente mesmo passando pelo sofrimento e a dor. É a luz que vem até nós, resplandecente do túmulo vazio, inundando nossa alma de todas as certezas de que precisamos para suportar tudo o que vivemos e sublimar o que não conseguimos suportar. Celebrar a Páscoa é celebrar a esperança no esplendor da glória do Pai, que é Jesus. A escuridão da madrugada dá lugar a aurora resplandecente de Cristo, iluminando as trevas de nosso coração e do mundo inteiro.
Itabira, 15 de março de 2021
Pe. Ueliton Neves da Silva