Decorreram já oito anos desde a Laudato si’, mas com o passar do tempo as reações e medidas tomadas mostram-se cada vez mais insuficientes, enquanto «o mundo que nos acolhe se vai desmoronando e talvez aproximando de um ponto de rutura» (cf. LD 2).
As alterações climáticas são inegáveis e os seus efeitos tornam-se cada vez mais evidentes, «os sinais das alterações climáticas são bem visíveis e cada vez mais patentes» (cf. LD 5). Apesar de algumas tentativas para os minimizar ou ridiculizar (cf. LD 6), a realidade é que a situação é premente. A atividade humana é a principal causa deste problema («já não é possível duvidar da origem humana —“antrópica”— das alterações climáticas» (cf. LD 11)) e a velocidade e aceleração com que se produzem as catástrofes ou fenômenos naturais, tornam-nos em muitos casos irreversíveis. Embora não possamos corrigir todos os danos, ainda podemos tomar medidas para evitar danos mais graves (cf. LD 11, 14, 15, 16). Deveríamos começar por aceitar «alguma responsabilidade pelo legado que deixaremos após a nossa passagem por este mundo» (cf. LD 18). Se alguma coisa aprendemos com a anterior pandemia da COVID-19 é a estreita relação com outros seres vivos e com o meio ambiente: «tudo está interligado» e «ninguém se salva sozinho» (cf. LD 19).
E, no entanto, pensamos com frequência que são a tecnologia e o poder econômico que podem resolver todos os nossos problemas, como se «as nossas capacidades e possibilidades pudessem ser ampliadas até ao infinito graças à tecnologia» (cf. LD 21). Importa perguntar-nos: «Em que mãos está e pode chegar a estar tanto poder? É tremendamente arriscado que resida numa pequena parte da humanidade» (cf. LD 23). Estamos tão envolvidos neste paradigma tecnocrático (cf. cap. 2), que julgamos que a natureza é um recurso a explorar e esquecemos, na nossa ambição, que somos parte intrínseca da mesma (cf. LD 25). Necessitamos, portanto, de repensar o modo como usamos o poder e reconhecer que a ambição desmedida não é eticamente sustentável (cf. LD 28). Claro que se nos deixarmos levar por uma «lógica do máximo benefício com o menor custo […] torna-se impossível qualquer preocupação sincera pela casa comum» (cf. LD 31).
A cooperação global é essencial para abordar a crise climática. Mas são necessários acordos multilaterais entre os Estados, e «organizações mundiais mais eficazes, dotadas de autoridade para garantir o bem comum mundial» (cf. LD 35), independentemente dos interesses individuais (de empresas ou países) (cf. LD 34, 35). Devemos repensar a maneira como tomamos decisões e as legitimamos, uma vez que as abordagens atuais e passadas são insuficientes (cf. LD 43).
Ao longo de décadas, realizaram-se conferências internacionais para abordar a crise climática, mas muitas vezes a implementação de acordos foi reduzida devido à falta de mecanismos efetivos de controlo e sanção. É crucial superar as posturas egoístas dos países em prol do bem comum global (cf. LD 44, 52).
A próxima COP28 da ONU no Dubai poderá ser um ponto de inflexão importante se demonstrar que os esforços empreendidos desde 1992 foram genuínos (cf. LD 54). Contudo, a transição necessária (em questões energéticas, por exemplo) não avança com rapidez suficiente (cf. LD 55). É preciso superar a tendência para procurar soluções técnicas isoladas, pois corremos o risco de ficarmos encerrados na lógica de remediar (cf. LD 56, 57), «enquanto avança um processo de deterioração que continuamos a alimentar» (cf. LD 57). Quem deve intervir, os Estados e responsáveis políticos, devem pensar no bem comum, no futuro dos seus filhos, «mais do que em interesses circunstanciais de alguns países ou empresas». (cf. LD 60) Porque, de facto, «para que serve conservar hoje um poder que será recordado pela sua incapacidade de intervir quando era urgente e necessário fazê-lo?» (cf. LD 60).
O Papa faz um apelo a todos, a pessoas de todas as confissões religiosas, para reagir. Aos fiéis católicos recorda-lhes a sua fé em Deus e a responsabilidade de cuidar da criação de Deus. Esta responsabilidade implica respeitar as leis da natureza e reconhecer a beleza e a riqueza da criação divina (cf. LD 61, 62, 63). Francisco convida-nos a caminhar juntos, em comunhão, sinodalmente, e a trabalhar na «reconciliação com o mundo que nos acolhe» (cf. LD 69). LAUDATE DEUM («Louvai a Deus») é o nome desta carta; «porque um ser humano que pretende ocupar o lugar de Deus converte-se no pior perigo para si próprio» (cf. LD 73).