A foz do Rio Doce se tornou um marco histórico no último domingo (18/6) ao receber quase quatro mil pessoas dos estados do Espírito Santo e de Minas Gerais que juntas participaram do encerramento da 6ª Romaria das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce.
O evento foi um grande clamor para que toda a sociedade volte seu empenho para o cuidado com a sua casa comum e o bem de todos. “Devemos cultivar a mística do cuidado com a natureza e com os irmãos. As empresas não podem fazer o que querem. A economia não pode ter essa autonomia em relação à política e à ética, mas devem estar todas voltadas realmente para o bem coletivo. É preciso que nós sejamos cuidadores uns dos outros e da casa comum”, destacou o bispo diocesano de Colatina, dom Lauro Sérgio Versiani Barbosa, em sua homilia.
Esse momento aconteceu em Regência, litoral de Linhares, onde o Rio Doce deságua no mar. A programação teve início com a caminhada da multidão até a praia onde foi celebrada a santa missa que contou com a participação de padres, seminaristas e de dom Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo emérito de Mariana; dom Décio Sossai Zandonade, bispo emérito de Colatina; e dom Luiz Fernando Lisboa, bispo de Cachoeiro de Itapemirim; além de dom Lauro, que presidiu a celebração.
O bispo de Colatina justificou a escolha de Regência para sediar o encerramento da romaria: foi ali que a lama de rejeitos de minério foi despejada após destruir a bacia do Rio Doce e matar 19 pessoas com o rompimento da Barra de Fundão, em Mariana (MG), no dia 5 de novembro de 2015. Essa foi a maior tragédia socioambiental da história do Brasil e seus efeitos são sentidos ainda hoje especialmente pelos que tiravam do rio o seu sustento. “Estamos cercados por pessoas gananciosas, por um sistema de produção e consumo que destrói a natureza, que exaure a criação de Deus”, denunciou dom Lauro.
A romaria contou ainda com a presença de religiosos, religiosas, leigos, povos originários e pessoas de outras religiões vindos de todo o Espírito Santo e das cidades mineiras banhadas pelo Rio Doce. E todos estavam juntos, cantando, rezando e movidos por um entusiasmo genuíno fundamentado na esperança de que é possível viver de maneira diferente, com mais amor, fraternidade e respeito.
Um dos momentos mais emocionantes da romaria foi a fincada da cruz. Uma enorme cruz de madeira foi carregada pelos romeiros até um ponto da praia próximo à foz e lá erguida e consolidada na areia, enquanto a multidão cantava e dançava.
O padre Marinaldo Serafim, que integrou a coordenação geral da romaria, considerou o evento um sucesso especialmente porque contou com o empenho de grande número de pessoas, incluindo paroquianos e padres. Ele lembrou que o momento em Regência foi a culminância de um processo maior que teve início com a realização de seminários e da Semana Missionária. “Toda essa caminhada ajudou a colocar em pauta a temática da romaria que é o cuidado da casa comum, recuperando o sentido que o Papa Francisco propõe na Laudato si’”, disse.
“A presença em massa das pessoas contribuiu para o bom êxito dessa romaria. Destaco o empenho da Paróquia São Paulo Apóstolo e de seu pároco, padre Romildo da Silva Almeida, na organização, suporte e acolhida dos romeiros em Regência”, acrescentou.
Após o almoço, os romeiros permaneceram em Regência para prestigiar apresentações de concertina e do congo local.
A próxima edição da Romaria das Águas e da Terra da Bacia do Rio Doce acontecerá em 2024 na cidade de Governador Valadares (MG).
Fotos: Vinícius Gardiman e Franciara Moro
Fonte: https://diocesedecolatina.org.br/