A vida é Dom e Compromisso! Seu sentido consiste em ver, solidarizar-se e cuidar. A vida é essencialmente samaritana, tal qual o homem que interrompeu sua rotina para cuidar de quem estava caído à beira do caminho (Lc 10,25-37). Não se pode viver a vida passando ao largo das dores dos irmãos e irmãs.
Para combater a autossuficiência, somos quaresmalmente convidados a redescobrir o dom de Deus (Jo 4,10). Vivendo a conversão e buscando assumir o espírito da Quaresma com toda a sua riqueza espiritual. Diante da inconsequência, somos interpelados a recuperar o valor do compromisso (Lc 14,25-33). Assustados pela indiferença, torna-se urgente testemunhar e estimular a solidariedade (Mt 25,45).
Em Jesus Cristo, vencedor do pecado e da morte, somos vocacionados ao intercâmbio do cuidar: cuidamos uns dos outros, cuidamos juntos da Casa Comum, porque Deus sempre cuida de todos nós! (Sl 8,4; Is 49,15; 1Pd 5,7).
O tema da Campanha da Fraternidade deste ano é “Fraternidade e vida: dom e compromisso” e o lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34). O tema e lema reforçam a dimensão do cuidado, sendo por este motivo que o cartaz apresenta Irmã Dulce, pois seu modo de cuidar sinaliza uma Igreja em saída. A ideia principal é cuidar das pessoas que estão próximas.
A Campanha está sintonizada com as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE 2019-2023), no que diz respeito à imagem da casa em que se permite o ingresso e a saída. É, ao mesmo tempo, lugar de acolhimento e envio. Com isso, ela remete aos dois grandes eixos inspiradores dessas Diretrizes: comunidade e missão. A casa é a imagem do que as Diretrizes chamam de comunidades eclesiais missionárias.
O tema da Campanha favorece nossa preparação pascal. A fraternidade (doação de si) articula a oração (elevação de si) com o jejum (superação de si). Três dimensões humanas que, bem relacionadas, expressam o si próprio naquilo que tem de melhor, a capacidade de ultrapassamento.
A Quaresma favorece a retomada do sentido original, indo às fontes bíblicas para que se releve a conversão com toda sua beleza e provocação. O profeta Joel, entre outros, transmite-a no apelo insistente e vital da parte do próprio Deus: “Volta para mim com todo o vosso coração” (Jl 2, 12). O convite-chamado é feito pelo Deus da aliança de amor a Israel, para que ouça e tome atitude. Jesus, desde o início da pregação sobre o Reino, convida com insistência profética: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1, 15), que é Ele mesmo. São Paulo suplica: “Deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5,20).
A Igreja sempre reza pela conversão dos pecadores a fim de que sejam tocados pela graça do Espírito e, no mesmo Espírito, se disponham a produzir frutos. Rezemos, pois, uns pelos outros porque converter-se é também abraçar o melhor, saindo da mesmice, e alçando voos de maior empenho na generosidade, interioridade, gratuidade…conforme as moções do mesmo Espírito.
Permita o Bom Deus que cada pessoa, grupo pastoral, movimento, associação, Igreja Particular, enfim, o Brasil inteiro, motivado pela Campanha da Fraternidade, possa ver fortalecida a revolução do cuidado, do zelo, da preocupação mútua e, portanto, da fraternidade.
Dom Marco Aurélio Gubiotti
Bispo Diocesano de Itabira-Coronel Fabriciano
“Pela Graça de Deus” (1Cor 15,10)