No último dia sete de setembro, aconteceu, na cidade de Itabira/MG, o 30º Grito dos Excluídos e Excluídas. O ato, que aconteceu em diversas cidades do país, levou milhares de pessoas às ruas das cidades brasileiras. Com o lema “Todas as vidas importam! Mas quem se importa?”, as ruas da cidade de Itabira, em Minas Gerais, foram tomadas pela caminhada que reuniu moradores, representantes da diocese de Itabira/Coronel Fabriciano, povos indígenas, membros de sindicatos, dentre outros.
“Celebramos as práticas libertadoras suscitadas pelo Espírito de Deus junto aos lutadores e lutadoras do povo, para fortalecer cada vez mais a caminhada das comunidades e organizações que anunciam um mundo novo. O momento celebrativo recarrega as energias, reacende a memória e ajuda a somar forças no compromisso! As sementes plantadas nunca são perdidas, mas seguem dando frutos!”, diz um trecho do documento de orientações para a realização do Grito.
A caminhada percorreu os bairros Monsenhor José Lopes da Silva, Santa Ruth, Santa Marta, Fenix e João XXII da Paróquia São João Batista, ecoando pautas como o direito das mulheres, por moradia digna, transporte de qualidade, acesso a políticas públicas, contra o desmatamento e as queimadas, e com pedido de respeito à cultura dos modos de vida dos povos originários, da população negra, dentre diversos outros.
“Neste contexto que estamos vivendo, não é só a vida humana, precisamos lembrar da fauna, da flora nesse tempo de queimadas. Infelizmente nós estamos vivendo um momento muito difícil no nosso Brasil em que as queimadas estão ofuscando a nossa qualidade de vida. Nós precisamos ter uma qualidade de vida melhor. E como o Grito já diz, todas as formas de vida importam, eu importo, com todas as formas de vida. E é nesse contexto que nós acolhemos o grito aqui na nossa Paróquia”, destaca o Pe. Hideraldo Veríssimo Vieira, pároco da paróquia São João Batista, em Itabira.
Para o padre Marco José Almeida, Pároco da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Ipatinga, o Grito é um momento em que a sociedade grita para que as diferenças sociais sejam cada vez menores, “ele quer apontar alguns irmãos nossos que são considerados invisíveis, embora visíveis, mas que são considerados invisíveis devido a essa cultura que nos é imposta e que nos tira a capacidade de ver o outro como irmão.”
Padre na Paróquia São Luís Maria Grignion de Monlevade, Luiz Augusto Stefani (Pe. Luizinho), o Grito dos Excluídos e Excluídos é também um grito da natureza. “Hoje, refletindo sobre o grito dos excluídos, me veio duas imagens: a da carta de S. Paulo e do cego de Jericó. A primeira, lembra que a natureza grita com dores de parto. Não se trata só dos seres humanos, mas de toda a natureza. E a natureza toda está envolvida num projeto de salvação de Deus, mas quem tem que fazer esse caminho especificamente é o povo.”
Para ele, o Grito é também uma ação que reflete o nosso clamor, assim como traz a segunda imagem que vem à memória para além da Carta de S. Paulo, “nos evangelhos vemos vários momentos em que se grita e um deles é o cego de Jericó. Nele, aparece um cego de Jericó a beira do caminho, e ele escuta que está passando por ali Jesus de Nazaré. Ele dá um grande grito: ‘Jesus, filho de Davi, tenha compaixão de mim!’ Esse é o grito de hoje, grito de tantos povos, culturas, tantos setores da sociedade que gritam ‘senhor! Tenha compaixão de nós.’ Todos gritamos como o cego de Jericó e esse grito tem que ter uma resposta, ele tem que continuar”.
O que é o Grito dos Excluídos e Excluídas?
De acordo com as informações divulgadas no site do coletivo, a proposta do Grito dos Excluídos e Excluídas nasceu de uma reunião, promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em 1993. Ainda de acordo com o informativo, o Grito surgiu como uma forma de dar continuidade sobre os debates e o tema da semana “Brasil, alternativas e protagonistas”, ou “O Brasil que a gente quer”. Assim como, inspirada no lema da Campanha da Fraternidade de 95, que tinha por tema “Fraternidade e Excluídos” e lema: “Eras tu, Senhor?”
Nesse sentido, o dia 7 de setembro é marcado pela realização do Grito e, desde a sua criação, vem sendo um contraponto ao Grito da Independência, proclamado em 1822. “Por isso, desde 1994, o Grito dos Excluídos e Excluídas tem como objetivo levar às ruas e praças, os gritos ocultos e sufocados, silenciosos e silenciados, que emergem dos campos, porões e periferias da sociedade. Trata-se de revelar, à luz do dia e diante da opinião pública, as dores e sofrimentos que governos e autoridades tendem a varrer para debaixo do tapete. Trazer à superfície os males e correntes profundas que atormentam o dia-a-dia da população de baixa renda”, diz a publicação.
“A minha reflexão sobre o grito é, a partir do 7 de setembro, de 1822, que vai declarar, a independência do Brasil e, de lá pra cá, penso que nós vamos descobrindo e redescobrindo que nós somos um país dependente de muitas mazelas sociais. E estas mazelas sociais nos provocam tanto, que a gente sai em fileira, há três décadas, dizendo que nós não somos independentes, nós dependemos de muitas ações e políticas públicas que resolvam de fato os nossos problemas que são visíveis.”, destaca o Pe. Marco José Almeida, refletindo sobre a importância do Grito, bem como de sua continuidade.
Quer saber mais sobre o Grito dos Excluídos e Excluídas? Acesse em: https://www.gritodosexcluidos.com/sobre-grito-dos-excluidos-e-excluidas
Fonte: Cáritas Diocesana