“Eis que vos envio como ovelhas entre lobos” (Mt 10,16).
Essa frase sempre me provocou certa apreensão, como se uma caminhada difícil fosse desígnio para os seguidores de Cristo. Mas o mesmo Jesus que faz esta afirmativa, é também o que diz: “Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt 10,22).
O Pai enviou seu Filho para percorrer um caminho desafiador: resgatar as ovelhas perdidas, de tal maneira que o “prêmio” para os resgatados será nada menos do que a vida eterna em seu reino. É um grande motivo e incentivo para perseverarmos até o fim!
O jargão – “ninguém disse que seria fácil” – cabe muito bem aqui. Não será fácil. Mas a resposta para tantas dúvidas que surgem no dia a dia pode estar nesta palavra: perseverança! E também no que tão bem afirmou Dom Marco Aurélio Gubiotti: “Aquele grão de mostarda tem vocação para ser árvore frondosa”!
Ele tem um brilho no olhar que vai da inocência infantil à alegria de quem ganhou na megasena. Tem uma energia que faz cinquentonas como eu querer desabar na cadeira – não sem uma pontinha de inveja e com o pensamento: já tive 32 anos!
Sob muitos aspectos, é uma criança apaixonada pelo que lhe é proposto. Sob outros, é um estudioso, atento a tudo e aberto às experiências que só Deus pode proporcionar. É com ele que aprendi o que preferia não ter aprendido: “essa frase não é de Paulo”. Ô frustração! É uma das frases que mais amo de Paulo e ele me diz que não é de Paulo. Conhecimento demais pode ser chato – risos!
Márcio tem isso: quer dividir, quer repassar o que aprende, quer compartilhar experiências – mesmo quando eu não quero aprender coisas do tipo: essa frase não é de Paulo! Ele ensina e isso é bom. Tem relação direta com a catequese – e isso é muito bom! Ele é conectado, entende “um mundo assim” dessas tecnologias, está completamente inserido nos contextos midiáticos das duas primeiras décadas do século XXI.
O que não quer dizer que ele esteja pronto!
E que bom que não está, porque a própria trajetória de Jesus e seus apóstolos nos demonstra que é o ato de caminhar que vai nos transformando, moldando. É o percurso que nos ensina e não a vontade de percorrer.
Das histórias de criança que ele me contou… há um tanto de menino arteiro – nem vou repassar algumas porque ele vai ser padre e tem gente que não gosta de pensar que o padre foi uma criança sapeca. Padre pode ter sido qualquer criança! E Márcio foi criança como todos nós.
Ele nasceu em Inhapim, em 18 de novembro de 1988. Segundo filho, dos quatro, dois homens e duas mulheres, de Adão Maximiando Mota e Perpétua Aparecida da Cruz. Com menos de 2 anos se transferiu com a família para a cidade de Timóteo, na qual o pai, que antes trabalhava na lavoura, passou a ser funcionário de uma siderúrgica.
Fez parte dos Confrades Mirins da Sociedade São Vicente de Paulo, como membro da Comunidade São João Batista, na Paróquia São José de Acesita. Além de membro da conferência, participava das missas dominicais com a família. A rotina de confrade o inseriu num contexto que muitos preferem ignorar: o das faces sofridas. A visita aos enfermos e entrega de cestas básicas eram práticas que ele exercia já na infância. Além disso, participava do Projeto Recriando: futebol, vôlei, peteca, queimada, artesanato, aulas de dança – uma manhã inteira de atividades antes de partir para o “segundo turno” da jornada na escola regular.
De 2006 a 2008, dedicou-se aos estudos no Cefet-Timóteo, fazendo o curso de Informática Industrial e, logo após, estágio. Nesse período, distanciou-se das atividades na Igreja voltando a atuar apenas em 2010 quando, além de ser contrato pelo Bradesco, assumiu a coordenação do grupo de jovens.
E foi exatamente em 2010, ao participar da Semana Vocacional do Seminário São José, que Márcio teve um insight – bem a “carinha” dele, por sinal: “eu fiquei deslumbrado/encantado quando vi todos aqueles seminaristas entrando para a Missa”.
Nessa época, Márcio mantinha um namoro de dois anos e meio com uma moça do mesmo grupo de jovens que ele coordenava. A decisão de seguir outro caminho pôs fim ao relacionamento e, em 2011, Márcio participou dos 10 encontros vocacionais, entrando para o seminário propedêutico em março de 2012.
De 2013 a 2015 – cursou e concluiu o curso de filosofia na PUC-Minas.
De 2016 a 2019 – o de teologia na PUC-Minas e concluiu também uma especialização em catequese pela mesma universidade.
2020 – começou o estágio pastoral na Paróquia Nossa Senhora da Saúde, em Itabira, sob a orientação do pároco, Padre Paulo Marcony Duarte Simões.
Da criança que fazia de tudo para chamar a atenção dos pais ao seminarista que se prepara para a ordenação diaconal, Márcio deu um salto de amadurecimento e autoconhecimento, numa trajetória pontuada por altos e baixos, mas sempre com muito bom humor.
Certa vez, pouco antes da Santa Missa, ouvi dele uma frase que me diz muito do padre que ele pode se tornar: “eu tô aqui pra servir”.
É isso: “… aquele que quiser tornar-se grande entre vós, seja aquele que serve, e o que quiser ser o primeiro dentre vós, seja o vosso servo.” (Mt 20,26)
Gustavo é apenas quatro anos mais novo que Márcio, tem 28. Nasceu em 8 de março de 1992.
Natural de São Gonçalo do Rio Abaixo, filho de Danilo Osmar Alves e Georgina de Fátima da Silva Alves, também vem de uma família de 4 irmãos (dois homens e duas mulheres). Uma família tradicionalmente católica e participante de várias atividades da igreja.
O avô materno, Francisco Domingos da Silva, era da Irmandade do Santíssimo Sacramento. A avó, Maria Auxiliadora, era a típica “senhora das rezas”: terços, novenas, festejos de santos, além de fazer questão de cuidar da ornamentação da igreja. A mãe era membro do coral (Paróquia São Gonçalo). O avô paterno, vovô Doca (Raimundo Quirino Alves), tocava trompete na Corporação Musical Santa Cecília.
Desde criança, sendo muito apegado à mãe, Gustavo a acompanhava em tudo que se relacionava à igreja, o que não era difícil já que residiam em uma casa próxima à Matriz. Vendo os padres celebrarem, já falava que queria ser um deles. Participou dos corais infantil, de jovens e de adultos. Também era presença certa nas coroações a Nossa Senhora e ao Sagrado Coração de Jesus. Atuou como coroinha com Padre Francisco Guerra e como acólito com Padre Almir. Fazia preces, comentários e proclamações.
Autodidata, como ele mesmo se define, aprendeu sozinho a “usar” os livros da igreja (lecionário e missal) – tarefa não muito fácil para muita gente (me incluo neste grupo) que acha tudo aquilo muito confuso! Festas, solenidades, santos, semanal, dominical… ai!
Organizado, exigente e metódico – “mas tudo na medida certa”, acrescenta, Gustavo não teve dificuldade para se destacar naquilo que se propunha fazer. O primeiro “serviço remunerado era colocar as músicas nos casamentos” – aos 10 anos. Digitava trabalhos e ajudava na elaboração de material pedagógico para as escolas.
No ano de 2000, Padre Almir Adoniram Duarte foi para São Gonçalo, o que motivou Gustavo a participar de encontros e atividades maiores da igreja, como das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), e a assumir outras responsabilidades, aos 16 já era coordenador da catequese. Para Gustavo, Padre Almir era um exemplo/modelo de pastor e excelente formador (catequese e liturgia).
Aos 18 anos, teve o primeiro emprego formal, trabalhando no setor administrativo da Paróquia São Gonçalo. Nessa época, chegou a ingressar no curso técnico de enfermagem, mas ao final, quando do estágio, perdeu a motivação e passou a focar no caminho sacerdotal.
Assim como muitos jovens, Gustavo chegou a pensar em constituir família, casar, ter filhos e investir em um negócio próprio. Mas quis o caminhar que o destino fosse outro.
Tal como Márcio, participou dos encontros vocacionais e em 2012 seguiu para o propedêutico.
Cursou de 2013 a 2015, Filosofia na PUC-Minas.
De 2016 a 2019 – Teologia na PUC-Minas.
Em janeiro de 2020, concluiu a pós em Gestão Eclesial pelo Instituto São Tomás de Aquino/BH. Faz seu estágio pastoral na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, no Distrito de Ipoema, sob a orientação do administrador paroquial Padre Francisco Neto Guerra.
Neste sábado, 25 de julho, às 15h, no Santuário São Geraldo Majela, em Itabira, Márcio e Gustavo receberão pelas mãos do bispo diocesano, Dom Marco Aurélio Gubiotti, o sacramento da ordem – no caso dos dois, da primeira ordem sacerdotal, o diaconato.
Após tantos anos de estudos e discernimento, eles assumirão o compromisso de se colocarem a serviço.
Que sobre eles paire sempre a inspiração e assertividade do Espírito Santo. Que sejam, pela graça de Deus, verdadeiros seguidores do Cristo, anunciadores do Evangelho – pelas palavras e, sobretudo, pelas ações.
Afinal, como disse São Tiago: “… se alguém disser que tem fé, mas não tem obras, que lhe aproveitará isso? Acaso a fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã não tiverem o que vestir e lhes faltar o necessário para a subsistência de cada dia, e alguém dentre vós disser: ‘Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos’, e não lhes der o necessário para a sua manutenção, que proveito haverá nisso? Assim também a fé, se não tiver obras, está completamente morta” (Tg 2,14-17).
Liliene Dante
Paróquia Nossa Senhora da Saúde – Itabira