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29 de março de 2024

209 anos de fundação da Irmandade dos Pretos de Itabira

13/04/2021 . Notícias da Diocese

Atualmente tenho desenvolvido um projeto como universitário da PUC Minas, pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PROBIC), ao qual é vinculado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), responsável em fomentar pesquisas em diversas áreas do conhecimento. O objeto de minha pesquisa é a Irmandade do Rosário dos Pretos de Itabira, Minas Gerais. Uma vez que é praticamente inexistente uma pesquisa sobre a própria irmandade de Itabira que pudesse me servir como referência base, busco compreender melhor este tipo de associação através de muitos estudos já realizados em torno da Irmandade do Rosário dos Pretos de Ouro Preto, Minas Gerais. Por meio de algumas fontes primárias, tais como o Compromisso, o Livro de Ata e o Livro de Receitas e Despesas da própria Irmandade de Itabira, busco compreender a vida espiritual dos associados desta agremiação. Para esta pesquisa, sou orientado pela professora Ana Maria Coutinho (PUC Minas), com o apoio das professoras Júlia Calvo (PUC Minas) e Adalgisa Arantes Campos (UFMG).

Como itabirano, fico feliz em poder realizar uma pesquisa sobre um assunto tão caro a minha cidade natal e, como seminarista, poder colaborar em resgatar um pouco da história de uma associação religiosa de vocação leiga, criada especificamente para o bem espiritual e social dos escravos. E, apesar de termos perdidos tantos patrimônios, ainda permanece de pé a Igreja que abrigou tal Irmandade, que é a Igreja Nossa Senhora do Rosário, conhecida carinhosamente por Igreja do Rosarinho, situada nas proximidades da atual Igreja Catedral. E, no decorrer das minhas pesquisas, também tive a oportunidade de receber do Mauro Andrade, itabirano, uma cópia do Compromisso da Irmandade dos Pretos de Itabira que se encontra no Arquivo Ultramarino, em Portugal. Esse documento também está no site do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), para qualquer pessoa que desejar consultá-lo.

O livro de Compromisso é um Estatuto que rege os direitos e deveres de uma irmandade aos quais devem ser seguidos pelos irmãos que nela se agregarem. As irmandades tinham que pedir a aprovação dos seus compromissos para serem legalizadas perante a Coroa Portuguesa. No caso de Itabira, o pedido é direcionado à Rainha de Portugal, Sua Majestade Real, Dona Maria I (1777-1816), no ano de 1799 (ARQUIVO, 1799). É graças a esta obrigação de enviar cópias para a Coroa Portuguesa que temos hoje acesso ao Compromisso da Irmandade do Rosário dos Pretos de Itabira.

Ao ler, analisar e interpretar as correspondências enviadas pelos párocos de Itabira com o bispado de Mariana e com a Coroa Portuguesa, concluímos que os irmãos pretos de Itabira propuseram fazer o seu Compromisso e os encaminharam a Portugal no ano de 1807. Tudo indica que, a partir desse ano, a Irmandade já tinha recebido a aprovação por parte do bispado de Mariana. A aprovação oficial ocorreu posteriormente, não sendo possível precisar com informações concretas acerca desta data. No entanto, encontramos um carimbo no livro de receitas e despesas de 1874 dos irmãos do Rosário que a irmandade foi aprovada oficialmente no dia 13 de abril de 1812. Por esse, motivo, hoje dia 13/04/2021, fazemos memória de 209 anos da oficialização e estruturação dessa Irmandade.

A fé sempre esteve presente no contexto da formação dos espaços sociais em Minas Gerais, como percebemos na própria história de fundação da cidade de Itabira que tem como padroeira Nossa Senhora do Rosário. Para tanto, nessa data especial, em que recordamos os 209 anos de fundação da Irmandade do Rosário de Itabira, gostaríamos de lembrar das pessoas que fizeram parte dessa Irmandade, que constam no Livro de registro da eleição da Mesa Administrativa de 1816, de modo especial dos irmãos que tomaram posse no ano de 1817. Seguem os cargos e as suas ocupações:

Rei: Vicente Pinheiros, escravo do C. Manoel Antônio de Magalhaes; Rainha: Anna Nunes Figras crioula, forra; Juízes Maiores: Domingos Angola, escravo do Alferes Jozé Gomes e Florinda Angolla, escrava de Genoveva Nunes; Juízes Menores de São Benedito: Pedro de Andrade, escravo de D. Senhorinha Maria Clara e Roza Rodrigues, escrava de João Caetano; Juízes Menores de Santa Efigênia: Manoel Angolla, escravo de Angelo Custodio e Maria Conga, escrava do C. Thomé Nunes; Tesoureiro: C. João Francisco de Andrade; Escrivão: C. Joaquim da Costa Lage; Procurador: C. Paulo Jozé de Souza; Irmãos da Mesa: Pedro Coelho Benguella, forro; Francisco, escravo do Alfes João Bicudo de Alvarenga; Ignacio, escravo de João Jozé de Carvalho; Manoel de Souza, escravo do Tenente Coronel João da Matta Ribeiro; Manoel Banguella, escravo do C. João Francisco de Andrade e Francisco Angolla, escravo do C. Manoel Antonio de Magalhaes; Irmãs da Mesa: Catharina Dias, escrava do Tenente Manoel Coelho Ferreira; Thereza escrava, de Juliana; Joaquina crioula, escrava do Capitão Paulo Jozé de Souza; Juliana, escrava de Francisca Maria de Assunção; Joaquina crioula, escrava do Manoel Ignco de Moraes e Joanna Angolla, escrava de Lourenço Saulo; Andador: Francisco Manoel; e o Procurador: Gonçalo de Souza (ARQUIVO, 1816).

É importante saber da nossa história, do nosso passado, para assim fazer uma leitura do tempo presente com mais consciência e discernimento histórico e intelectual. Temos muito que descobrir e escrever sobre o passado de Itabira. Por isso, esse texto foi uma maneira de despertar o gosto pela história de nossa cidade e ao mesmo tempo evocar os nomes das pessoas que moravam no território e que colaboraram com o desenvolvimento religioso, cultural e social do povoado de Itabira. É uma pena que não temos a irmandade hoje, mas ainda nos resta a Igreja e cabe cuidarmos deste nosso patrimônio.

Para a história religiosa, comemorar 209 anos de fundação de uma irmandade é de muito júbilo, especialmente para a Diocese de Itabira – Coronel Fabriciano. A fé sempre foi elemento unificador de esperança que perpassa todo o tempo, como podemos ver atualmente com a pandemia da Covid-19. Ela sempre esteve presente nestas terras, onde o povo sempre teve empenhado em vivê-la por intermédio de Nossa Senhora do Rosário.


Foto destaque: Compromisso de 1799. Arquivo histórico ultramarino.
Seminarista Júlio César Santos – do 3º ano de Teologia da Diocese de Itabira-Cel. Fabriciano.
Historiador e associado correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais (IHGMG).