Mofo, infiltrações e problemas estruturais ameaçam Igreja São José Operário
Mais antigo e um dos mais importantes templos de João Monlevade, a igreja São José Operário é símbolo da cidade. Inaugurada em 1948, a matriz é conhecida por sua arquitetura exclusiva, em formato de “V”, representando a “Vereda, Verdade e Vida” de Jesus Cristo e também a Vitória das nações Aliadas na Segunda Grande Guerra. No entanto, o peso de sete décadas se abateu sobre a histórica construção, que agora está ameaçada.
Nos últimos meses, a movimentação de água no barranco nos fundos da igreja fez a terra úmida aproximar-se em direção à parede, comprometendo a estrutura. Por conta disto, o terreno debaixo do templo está cedendo, e já é possível perceber os desníveis e buracos abaixo da escadaria, da rampa de acesso ao lado da gruta de Nossa Senhora de Lourdes e até dentro da igreja, na parede traseira, próxima à porta ocidental. Em alguns pontos, na parte interna, o piso já afundou o suficiente para que uma pessoa tropece.
O lado ocidental do templo foi afetado pelas infiltrações, que geraram mofo e danificam a pintura. Em vários pontos da igreja, a tinta está estourada e revelando as camadas inferiores. Um dos quadros da Via-Sacra, que adornam as paredes laterais, terá de passar por restauração. O descolamento da pintura atinge até algumas janelas altas, próximas ao teto. O temor é de que a água penetre e atinja as partes em madeira do templo, como os confessionários, e inutilizem os quadros da Via-Sacra.
Algumas medidas emergenciais para conter os danos já foram tomadas, segundo o pároco padre Jefferson Veronês. Uma cozinha nos fundos da matriz, cujo telhado não tinha calha e ajudava a depositar mais água no barranco, foi desativada e está sendo demolida. A retirada de uma faixa de cimento revelou um buraco aberto na terra úmida. Com ferramentas de mão, membros da paróquia São José Operário começaram a remover a terra atrás da igreja. ‘No entanto, este serviço penoso poderia se arrastar por anos’, avalia o sacerdote responsável pela igreja.
Para fazer a remoção, de acordo com o padre Veronês, a paróquia precisa contratar máquinas e caminhões para remover e transportar as toneladas de terra. Do lado de dentro, deve ser feita a remoção do mofo e das infiltrações, com a impermeabilização e a nova pintura. Os tacos de madeira precisam de reparo, especialmente no andar inferior, onde funciona o salão paroquial, assim como as portas. A parte elétrica, que permanece a mesma desde a década de 1940, precisa ser urgentemente trocada, assim como a tubulação hidráulica de ferro. Também irão precisar de restauração os dois órgãos eletrônicos que fornecem música sóbria e solene para as Missas e celebrações.
No entanto, de acordo com o padre, a soma de todas estas intervenções ultrapassa os R$100 mil, dinheiro que a paróquia São José Operário precisa conseguir com urgência para evitar que os danos comprometam permanentemente a estrutura da matriz, desenhada pelo arquiteto checoslovaco Yaro Burian.
A igreja já se mobiliza para conseguir os recursos. A cantina, por exemplo, faz frequentes vendas de quitutes para fazer caixa para a reforma. Mas o padre Jefferson Veronês relata que precisará da união da comunidade para fazer os reparos. Ele conta que já chamou empresas para avaliarem as providências a serem tomadas, mas nenhuma delas compareceu ao templo. A paróquia tem uma conta para que a comunidade deposite doações em qualquer valor para a obra: banco Sicoob, agência 4027-4, conta 40.015.946-5, em nome da Diocese de Itabira – Paróquia São José Operário. Quem preferir também pode se inscrever no dízimo da paróquia, doando qualquer valor.
Além da igreja, a Gruta de Nossa Senhora de Lourdes (fotos), que fica no entorno, também precisa de atenção. O local, que recebe muitas pessoas para o lazer com crianças ou momentos de oração, está constantemente sujo. Até preservativos são encontrados no chão. Há mais de um ano, um barranco cedeu e a terra caiu sobre parte de uma grade, amassando-a. A Prefeitura se comprometeu em realizar melhorias no local.
Ao longo de sete décadas, um incontável número de pessoas entrou ao menos uma vez pela igreja São José Operário. Missas, batismos, matrimônios, formaturas, encontros e outros eventos foram realizados no templo, símbolo de João Monlevade. No entanto, muitas pessoas conhecem apenas a parte mais visível e mais visitada da matriz. Há uma parte do templo que permanece oculta à maior parte do público.
Uma das sacristias, à esquerda do altar principal, tem uma escada estreita, que leva a um andar inferior. Ali, existe uma sala de palestras e reuniões, além de uma pequena antessala, um corredor e dois banheiros. O padre Jefferson Veronês planeja aproveitar o espaço para construir um museu, exibindo imagens e declarações que contam a história da paróquia.
Ao lado do altar, há uma imagem bastante conhecida de São José Operário, talhada em madeira. No entanto, o que poucos sabem é que, atrás da igreja, há uma outra imagem de São José, esta carregando o menino Jesus. De acordo com o professor Geraldo Eustáquio Ferreira, o “Dadinho”, nos primeiros anos após a inauguração, a imagem ficava dentro da matriz, em posição de destaque. Na esteira das reformas do Concílio Vaticano II (1962-1965), a imagem foi deslocada para os fundos do templo, sendo substituída pelo grande crucifixo de madeira e pela imagem atual. Com o tempo, a imagem perdeu as cores originais, ficando completamente acinzentada.
os sinos dobram
Nos últimos anos, em todas as Missas, um rotundo som metálico ressoa pelo templo no momento da consagração. São os sinos, localizados no alto da torre da matriz. Mas o trabalho de fazê-los soar não é fácil. Para chegar até os sinos, é preciso ir ao coro e, em seguida, subir dois pavimentos em escadas chumbadas na parede. A primeira conta com um guarda-corpo, mas a segunda não. Por conta disso, chegar até os sinos é uma pequena aventura.
Mas no alto, é possível vê-los: são quatro, de diferentes tamanhos. Segundo o professor “Dadinho”, o maior deles é consagrado a Santo Elói, padroeiro dos metalúrgicos. O segundo é dedicado a São José, patrono da família e do trabalho. O terceiro a Nossa Senhora, mãe de Jesus. E o quarto e menor sino é dedicado a Santa Bárbara, padroeira dos mineradores e daqueles que trabalham com o fogo. A vista é privilegiada: é possível ver a Usina de Monlevade de um lado e a mata de outro.
São pequenos detalhes que compõem uma das mais importantes construções de João Monlevade, que acompanhou os principais episódios da vida da cidade e permaneceu como um símbolo da história do município e da eternidade da Igreja. Por sua arquitetura única, sua história e seu simbolismo, a matriz São José Operário é tida como o mais significativo ícone de João Monlevade, representando trabalho, a história e a cultura de seu povo.
Fonte: A Notícia Regional (João Monlevade – MG)